Cláudia Alencar volta às novelas, lança livro e revela que é uma mulher feliz e realizada com a carreira que escolheu.
Há quase 3 anos longe das novelas, foi em "Vidas em Jogo", trama da Record, que a atriz, escritora e artista plástica Cláudia Alencar retornou para as novelas, na pele de Adalgisa, funcionária de uma grife de moda. Nesse intervalo, ficou “enchendo seu poço criativo”, como disse em entrevista exclusiva à "Conta Mais", por meio de 12 cursos. Escritora desde os 12 anos, hoje coleciona 4 livrospublicados, sendo o último, Refinamento e Loucura, a ser lançado em 5 de dezembro, no Rio de Janeiro. Cláudia confessa que escreve para se salvar, mas, acaba salvando os outros com esta outra forma de arte. No entanto, é como atriz que ganha o pão nosso de cada dia, nesses 35 anos de carreira, feliz e realizada, após ter nadado contra a maré. O pai médico torcia o nariz para a profissão que ela abraçou. Mas, determinada, cursou duas faculdades: a do sonho e aquela que contentaria a família. Nesse bate-papo, Cláudia Alencar viaja ao passado e pensa no futuro com maturidade, sonhos e muitas realizações.
Desde 2008 que você não fazia novelas. A última foi Os Mutantes. O que ficou fazendo nesse intervalo? Você também é escritora e artista plástica. Ficou se dedicando a esses outros talentos?
Fiz 12 cursos, entre eles de interpretação, com professores do Actor’s Studio; de escrita poética; de artes plásticas, no Parque Lage; de canto; de saúde alternativa Body Talk –; palestras na Casa do Saber, em São Paulo; sobre qualidade de vida, enfim, fiquei enchendo meu poço criativo. Depois, parti para dar vida ao que aprendi. Fiz meu quarto livro de poesia Refinamento e Loucura, (que será lançado em 5 de dezembro, no Rio de Janeiro); uma exposição de fotos sobre as mulheres, com um dos melhores fotógrafos da Vogue européia, J. C. Bergamo, que deverá ser exibida em 2012 e estou captando para minha peça solo A Arte de se Encontrar, dirigida por Moaccir Chaves.
De onde surgiu o dom da escrita?
Aos 14 anos ganhei o concurso de poesia nacional, promovido pelo jornal Correio Brasileiro, mas, eu queria ser médica. Meu avô foi um médico notório em Campinas
(SP). Escrevo desde os 12 anos. Comecei com diários e depois segui escrevendo dia a dia, que evoluiu para poesia, contos e, também, continua sendo a forma que encontro de meditar, me entender e refletir sobre o mundo. Tenho 3 livros de poesia: Maga Néon, Sutil Felicidade e 50 Poemas Escolhidos pelo Autor, todos já esgotados, esperando uma segunda edição. Escrevo para me salvar. E, quando publiquei percebi que também poderia salvar outros. A arte salva, alegra e alivia.
Em quem se inspirou para fazer a Adalgisa? É complicado entrar com uma trama em andamento?
Perla Menescal entrou no quarto mês de A Fera Ferida, de Aguinaldo Silva, novela da Globo, mas eu me preparei para fazer o personagem. Adalgisa já entrou de supetão, em duas semanas. Estou encontrando-a aos poucos, fazendo menos, para ver se ela tem a coragem de vir até a mim com seu olhar, andar e personalidade. Ela está se construindo sob o olhar do público. É um desafio e tanto.
Como surgiu o convite?
Avancini (Alexandre, o diretor) me convidou a fazer a personagem, pois, sabia que eu queria muito fazer uma novela da Cristiane (Fridmann, a autora) e com ele.
Esta é sua quarta produção na Record, e sob a direção de Alexandre Avancini. Podemos dizer que você é uma das queridinhas dele?
Não há panelas na Record. Talvez por ser nova, esse fenômeno ainda não acontece. Eu adoro a criatividade, a sensiblilidade,inteligência e meiguice do Avancini,
mas, não sou a queridinha dele. Ele me chamou porque precisava mesmo de uma personagem com o meu phisique du role para a trama. Nós trabalhamos a serviço da obra em primeiro lugar. Não tenho favoritismo de ninguém.
Podemos dizer que, na maturidade de 35 anos de carreira, você já atingiu estabilidade financeira vivendo do que ama fazer: interpretar?
Por incrível que pareça sempre vivi de atuar, seja no teatro, TV ou cinema. Além do talento, a persistência nessa profissão é fundamental. Não podemos desistir nunca, apesar das dificuldades des inerentes, dificuldades que qualquer ator do planeta sofre igualmente. Antes, eu dava aula para Faculdade de Artes Cênicas (sou bacharelada e licenciada em Teatro pela Universidade de São Paulo e fiz pós graduação) e trabalhava num centro de artes em que pesquisava sobre teatro.
em São Paulo. Minha vida sempre foi voltada para o teatro; a arte de interpretar e depois para as letras e artes plásticas, mas, não ganho o pão de cada dia com essas duas.
Olhando para trás, mudaria algo ou faria tudo outra vez?
Gostaria de não errar os mesmos erros. De não repetir padrões. De ser mais ousada. Gostaria tanto de ser melhor. Vejo que tinha muitos medos que hoje rio deles, que ultrapassei obstáculos, mas poderia tê-los ultrapassado com mais rapidez. Mudaria muita coisa se pudesse voltar no tempo. Lendo meus diários é que vejo minha evolução e minha lentidão de aprendizado na vida. Porém sou assim. Procuro sempre o meu melhor, mas, nem sempre consigo. O que me alegra é que agora não me culpo por isso. Aceito minhas imperfeições.
Você pode relembrar quando decidiu ser atriz?
Aos 17 anos queria fazer EAD – que era curso de nível técnico e não universitário – para ser atriz. Houve uma discussão terrível em família com meu pai, que me impediu de fazer. Fiz a faculdade de Sociologia e Comunicações e Artes ao mesmo tempo – uma de manhã outra, à tarde. Sociologia para contentá-lo e Comunicações para me contentar. Sempre dancei, pintei e fiz teatro de brincadeira. Eu me sentia uma criadora, embora com todas as dúvidas: será que sou mesmo? Nasci com a alegria de criar. Poderia ter nascido para a alegria de curar. Mas, curo com ficção. Acabei virando uma médica.
O que enfrentou de dificuldades? Pensou em desistir?
Na carreira inteira senti dificuldades. Se fazia sucesso, como tantos que fiz, acabava a novela ou o teatro e não tinha mais trabalho para mim... Sempre fui de correr atrás de trabalho. Nunca pensei em desistir, porque a alegria, o prazer de estar num palco, num set de gravação, criar um personagem, vivê-lo, é tão vital para minhasaúde como beber água.
Trabalhou em outras áreas para poder atingir seu sonho? Para custear estudos, sobreviver em uma profissão tão instável?
Fui professora universitária e de ensino médio de teatro por 5 anos. E pesquisadora de teatro por 5 anos também. Comecei minha carreira profissional com 25 anos e nunca mais parei, tendo esses trabalhos como fonte de renda durante uns 5 anos. Depois, minha atriz foi generosa e me deu o pão de cada dia.
Ter chegado aos 60 te assustou ou teve alguma outra idade que a preocupou mais?
Os quarenta anos me assustaram. Entrada nos enta. Mas, agora nada me assusta, porque penso que sou muito jovem. Imaginou se eu tivesse 90? Sou uma garota perto das mocinhas de 90. Penso no futuro, não no passado. E, a cada ano fico mais jovem no meu aniversário: mais jovem que o ano que vem. Não é verdade também? Tudo é uma questão de olhar. E, meu olhar cada vez mais caminha do escuro para o claro.
Você ainda mantém uma afirmativa que fez em entrevista, no passado de que não tem medo da morte? Como se consegue isso? Tenho medo da morte de meus filhos. Muito. De meus amigos. Da minha?
Nasci sozinha. Morrerei sozinha. A Natureza sabe o que faz. Vamos dar fé a ela, ou a Deus, como quiserem pensar. E, sei que sou uma mulher muito feliz porque tive uma carreira que escolhi para ter prazer, dar prazer, para dar cultura, para ter cultura e porque tive filhos e eles são melhores que eu.
O que sonha para sua vida daqui para frente? Já está preparada para ser avó?
Yann tem 23 anos e mora em Nova York e Crystal está com 19 anos. Estou sofrendo da tal síndrome do ninho vazio. Passando por ela com solidão, compreensão e alegria,
pois, eles indo embora é sinal que minha educação foi ótima. Estou preparada para ser avó, mas, ainda não estou preparada para não ser desejada. Percebo que a
vontade de amar e ser amada perdura sempre na vida.
Uma vez li em entrevista sua que é importante ter um amor, ter um projeto de vida e não se deixar levar pela carência afetiva. E, a vida amorosa, como está?
Estou casada comigo. E, nos damos muito bem. Tenho alguns namoricos que me fazem muito bem, mas, nada sério. Estou bem feliz, sem carências. A vida é múltipla.
E, qual é o seu projeto de vida a curto prazo?
Ter saúde, ter e dar alegria. Deixe o governo dar o pão-sem corrupção - e nós o circo.”
Fonte: CONTA MAIS.